terça-feira, 30 de novembro de 2010

Inato X Adquirido

Na área de comportamento, tanto animal quanto humano, ouvimos muito falar sobre características ou comportamento inatos, com os quais nascemos, e adquiridos, os quais desenvolvemos ou acrescentamos ao nosso repertório ao longo do desenvolvimento.
Existem algumas características que são claramente inatas, que já vem no DNA e expresso assim que o indivíduo nasce, sem necessidade de exposição a nenhum fator externo; como o reconhecimento de faces para as fêmeas, o senso de direção do mar nas tartarugas marinhas, ou mesmo o comportamento de sucção em filhotes de mamíferos. Outras, como dirigir, caçar ou voar são adquiridas a medida que o indivíduo se desenvolve, e a medida que as necessidades surgem em um ambiente.
Mas há outras características e comportamentos que dependem de uma base genética, que é inata, mas também de um ambiente que propicie o seu desenvolvimento. Ou seja, o famoso Nature via Nurture, sendo necessário que haja uma base, que ao ser exposta a um ambiente que estimule certo gene, uma dada característica se desenvolve. Um dos melhores exemplos, nas minha opinião, é o da intolerância a lactose e o da miopia.
Um individuo pode desenvolver intolerância a lactose, mas é necessário que haja uma expressão gênica, ou seja, uma base genética que propicie isso, somada a exposição ao leite. Ou seja, um indivíduo que tiver a base genética para desenvolver intolerância a lactose, mas não consumir leite, não desenvolverá essa tolerância, pois é necessária a exposição a um ambiente com leite.
Alguns autores apontam que a miopia tenha surgido com o aumento da leitura. Ou seja, num ambiente ancestral, é possível que não houvesse míopes, já que eles não liam, mas o gene estava presente na população, porém como eles não liam, eles não ativavam esses genes.
Aonde quero chegar com isso?
Temos a potencialidade de sermos tanto vítimas quanto autores de bullying, como disse a palestrante. Sim, temos a base genética para ambos. O quer então difere de um para outro? O ambiente no qual se desenvolveram, o tipo de educação, a família, os limites, o afeto, a ambiente escolar, entre outros. Resumindo, não basta ter uma predisposição genética, se o ambiente não expuser o individuo a situação que favorecem a ativação daquele gene. Podemos ver geneticamente uma propensão a violência em uma certa criança, porém ela apresentar comportamento calmos e tranquilos. Por que isso? Provavelmente a resposta está do ambiente no qual essa criança cresceu.
Entenderam o recado?
Quem quiser ler mais sobre o assunto, sugiro o livro do Matt Ridley "O que nos faz humanos" (em inglês: Nature via Nurture).

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Palestra de bullying na AASP

No último dia 17 de novembro, houve uma palestra na Associação dos Advogados de São Paulo (AASP) intitulada "BULLYING - RESPONSABILIDADE CIVIL E A VISÃO DA PSICANÁLISE". Como palestrantes tivemos a psicanalista Dra. Giselle Câmara Groninga e o advogado Dr. José Fernando Simão. Primeiramente foi falado sobre aspectos gerais do bullying, para na segunda parte do curso, ser falado os aspectos legais. Os únicos estados que tem uma lei anti-bullying são Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os quais já tiveram julgados no assunto.
Mas será que penalidades resolverão a questão? Claro que é de extrema importância que o direito esteja engajado nas campanhas anti-bullying e que os profissionais atuem em sua área para auxiliar na diminuição deste fenômeno. Porém, não podemos crer que somente este posicionamento e esta atitude será o bastante. O que quero frizar aqui é algo comentado pela própria Dra. Gisele: se faz necessária a interdiciplinaridade para resolução deste problema social. Todas as áreas devem se unir, dialogando, para, juntas, chegarem a um denominador comum e uma melhor forma de agir. Enquanto isso não ocorre, cada uma faz o que está ao seu alcance.
Após citar as principais características das vítimas, autores e espectadores, o Dr. Simão indagou a Dra. Gisele sobre a possibilidade de todos nós sermos vítimas e agressores em potencial. Como resposta, a Dra. Gisele confirmou que todos temos a predisposição para desenvolvermos as características de vítima e autores, podendo exercer um dos dois papeis, ou ambos. Todavia, algo ficou no ar. Por que alguns são vítimas e outros autores? Sabemos das características. Vítimas são aqueles indivíduos que são mais tímidos, tiram melhores ou piores notas, tem alguma diferença física, como orelhas grandes, ser gordinho, usar óculos. Autores são aqueles que querer parecer mais valentões, que tem necessidade de chamar atenção para si, que gostam de ser os líderes do grupo, tudo isso somado a uma comportamento violento ou sádico.
Será que os fatores que desencadeiam um comportamento específico de vítima não pode ser semelhante àquele que desencadeia os de autor?
Cenas do próximo post.
Até lá.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Quem já foi vítima de bullying???? Eu, eu, eu, eu, eu......

Com a nova moda do bullying (sim, o bullying está na moda), vejo famosos, famosas, palestrantes, anônimos, todos contando como foi sua vida escolar e como sofreram bullying. As pessoas ficam com dó daqueles que sofreram, ficam comovidos com a história, se compadecem junto com a vítima. Isso mexe com os ânimos e faz relembrar o que muitos sofreram, daí a comoção generalizada.
O que acho mais curioso, é que nenhum famoso ou mesmo anônimo, nunca é questionado sobre ser autor de bullying. Mas por que valorizamos a vítima e escondemos os agressores do passado? Será que se um ator de sua preferência confessasse que cometeu bullying, você continuaria com sua predileção por ele? Será que ele teria contratos cancelados?
Mais questionamentos: por que a nossa sociedade valoriza a vítima e condena o agressor? Por que temos sempre a necessidade de apontar um culpado e condená-lo mesmo sem ir a juri? Será que se os autores se manifestassem, sem condenação, não poderiam nos auxiliar a entendermos melhor o que leva uma pessoa a insultar a outra? Já pensaram que um agressor muitas vezes pode não ter consciência da atitude rude e constrangedora? Não estou valorizando e protegendo os agressores, muito menos dizendo que todos os agressores não tem consciência do que faz.
Isso me remete a minha história de bullying. Em nenhum momento citei o porque de trabalhar com esse tema. Agora sinto que se faz importante comentar. Eu fui vítima e, em alguns momentos, autora de bullying. Vamos nos remeter a 1993, quando eu era uma menina, que estudava no Ensino Fundamental I. Eu sofria bullying por diversos motivos que não vem ao caso. O que importa é que por conta disso, eu quase não tinha amigos na escola e ficava um tanto quanto isolada. Claro que tinham 2 meninas que também sofriam bullying e se juntaram a mim e eu a elas. No auge dos meus 8 anos, eu entendi que, se você zoasse e colocasse apelido nos amigos/colegas, você era cool, era da galera, e por isso tinha mais amigos. Então, o que eu fazia? Colocava apelidos nas minhas únicas 2 amigas. Não preciso dizer que elas se afastaram e nunca mais tive contato com elas. Mas eu achava que esse comportamento era o legal, que me daria a chave para entrar para a galera e parar de ser zoada. Foi quando percebi o quão humilhante pode ser o bullying.
Não estou num dia desabafo. Quero apenas mostrar que uma vítima, também pode ser autora e não ter consciência disso e nem dos efeitos de suas atitudes. Por isso, ao invés de questionarmos se alguém foi vítima, que tal perguntarmos se foi autora e deixarmos a vontade para responder a verdade, sem ser massacrada e apontada. Condenando o autor, só estamos contribuindo com o bullying e com o preconceito.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Voltando ao começo

Lendo alguns dos comentários, percebi que esqueci de citar o que caracteriza o bullying. Não basta ver uma criança apelidando outra, ou mesmo batendo em outra para declarar que aquele ato é bullying. De acordo com o a comunidade científica internacional, é necessário preencher alguns requisitos para que um dado comportamento seja caractarizado como bullying ou bulição (nova tradução para o português).
Faça as seguintes perguntas:
- Esse é um comportamento intencional e repetido, que aconteceu mais de uma vez e não foi sem querer?
- Há uma relação desigual de poder, seja ela qual for (mais e menos bonito, alto, eloquente, dominador, velho, etc.)?
- A vítima realmente se sente injuriada, sem motivação evidente, por tal comportamento?
Se a resposta for positiva para todas essas questões, aí sim teremos o chamado bullying. Do contrário, poderá apenas ser um comportamento agressivo isolado, sem complicações maiores, como tem o bullying.
Esse é um comportamento que pode ocorrer em toda e qualquer escola, sendo pública ou particular, rural ou urbana, de grande ou pequeno porte. As escolas que se negam a ver e negam o fenômeno em seu estabelecimento, estão, de uma certa forma, incitando o bullying, negando a combatê-lo.
Lembrando: não precisa chegar na agressão física para ser considerado bullying. Se um aluno que está sendo apelidado, responder sim às perguntas a cima, esse comportamento certamente será bullying e deverá ser tomada uma atitude por parte da escola em conjunto com os pais, para tentar saná-lo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Uma alternativa que funciona!

Há livros e mais livros em diversas áreas, com diversos enfoques, que abordam o famoso "como lidar com o bullying?" ou "como prevenir bullying na sua escola?". Apesar de serem mais divulgados livros de psicologia, psiquiatria ou ciências sociais, outras áreas também pesquisam sobre bullying. Áreas essas que jamais poderíamos imaginar que se interessariam ou que teriam campo de atuação dentro da temática.
Em alguns livros e artigos, li que muitas vezes o autor não sabe o que realmente causa na vítima, principalmente se tratando de crianças pequenas. Eles recomendam, como uma forma de diminuir esse tipo de comportamento, que a vítima vá na frente de toda a sala, ou vá até o autor e fale, perante a professora, como se sente quando é xingado ou empurrado pelo colega. Muitas vezes os colegas se mobilizam e não toleram mais esse tipo de comportamento dentro da sala de aula.
A partir dessa visão, um grupo de teatro, que utiliza a técnica de Playback Theatre (conheça mais dessa técnica através do site http://www.playbacktheatre.com.br/), recria a história contada por uma vítima ou autor e representa para todo o público, ajudando a mobilizar a todos a entenderem o porque do comportamento ou suas consequências. Esse grupo (http://www.hudsonriverplayback.org/schools.html) atua somente nos Estados Unidos, onde a técnica foi criada, e onde há elevada taxa de bullying nas escolas. O grupo conta que essa nova abordagem vem ajudando muito tanto alunos, quanto escolas, a saberem como lidar com a situação. Soube de algumas peças aqui no Brasil que tratam do tema, mas com as técnicas teatrais mais conhecidas pelo público. Se eu estiver errada, por favor me corrijam.
Há alguns grupos de playback theatre espalhados pelo Brasil. Quem sabe esta não seja uma nova ferramenta que possa ajudar imensamente nas campanhas anti-bullying?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Muita calma com as campanhas anti-bullying

Sou extremamente a favor das campanhas anti-bullying. Creio que a informação é a melhor forma de combater os malefícios que o bullying pode acarretar na vida de todos. Através do conhecimento do fenômenos e seus fatores, podemos oferecer ajuda a alunos, pais, escolas e professores que muitas vezes não sabem como lidar com casos específicos. Vejo que os pais tem se preocupado muito com o envolvimento de seus filhos, tanto como vítimas, ou como autores. Mesmo pais cujos filhos não são vítimas, se preocupam com os amigos de seus filhos que são agredidos. Muitos vieram me perguntar como agir quando o bullying não é com seu filho. Prometo em breve falar sobre posturas que podem auxiliar no combate ao bullying por parte dos pais. Hoje, gostaria de comentar algo que vem me assustando.
As escolas, assim como os pais, se preocupam por terem casos de agressão em suas dependências. As instituições de ensino com raros casos de bullying são tidas com mais eficazes. Em uma palestra ouvi o relato de um professor de uma escola. Este contou que o local no qual trabalha, não quer ter problemas com bullying, por isso adotou uma postura rígida. Assim, ele me questionou: "você não acha que com o medo do aumento desse comportamento agressivo, podemos tolher o comportamento social benéfico dos nossos alunos?". Este mesmo professor nos contou que seus alunos não queriam mais fazer trabalhos em grupos e que eram tolhidos a qualquer menção de conversa em sala de aula, por monitores que ali ficam dispostos durante todo o período. Essa mesma atitude é tomada nos pátios e locais comuns aos alunos, que ao qualquer comportamento mais suspeito, são surpreendidos por um laser em sua direção.
Com os programas anti-bullying, não queremos privar a nossa juventude de ter comportamentos sociais que são extremamente positivos e necessários ao desenvolvimento. Não estamos criando autistas, para facilitar o trabalho de lidar com o problema. Muito pelo contrário, temos que promover o hábito coletivo saudável, as amizades e coleguismo, sem ofensas e sem preconceito, valorizando o pluralismo, e observado o direito da individualidade. É considerado bullying apenas o comportamento agressivo às partes envolvidas. Se ambos lidam com a situação como brincadeira, não é mais caracterizado como bullying. Desde que ambos estejam sendo sinceros ao afirmar isso. Há quem goste de ter apelidos, mesmo soando ofensivo aos ouvidos de pais e professores. Devemos observar caso a caso, e não passar o rodo a qualquer menção de um possível caso de bullying.