Com a nova moda do bullying (sim, o bullying está na moda), vejo famosos, famosas, palestrantes, anônimos, todos contando como foi sua vida escolar e como sofreram bullying. As pessoas ficam com dó daqueles que sofreram, ficam comovidos com a história, se compadecem junto com a vítima. Isso mexe com os ânimos e faz relembrar o que muitos sofreram, daí a comoção generalizada.
O que acho mais curioso, é que nenhum famoso ou mesmo anônimo, nunca é questionado sobre ser autor de bullying. Mas por que valorizamos a vítima e escondemos os agressores do passado? Será que se um ator de sua preferência confessasse que cometeu bullying, você continuaria com sua predileção por ele? Será que ele teria contratos cancelados?
Mais questionamentos: por que a nossa sociedade valoriza a vítima e condena o agressor? Por que temos sempre a necessidade de apontar um culpado e condená-lo mesmo sem ir a juri? Será que se os autores se manifestassem, sem condenação, não poderiam nos auxiliar a entendermos melhor o que leva uma pessoa a insultar a outra? Já pensaram que um agressor muitas vezes pode não ter consciência da atitude rude e constrangedora? Não estou valorizando e protegendo os agressores, muito menos dizendo que todos os agressores não tem consciência do que faz.
Isso me remete a minha história de bullying. Em nenhum momento citei o porque de trabalhar com esse tema. Agora sinto que se faz importante comentar. Eu fui vítima e, em alguns momentos, autora de bullying. Vamos nos remeter a 1993, quando eu era uma menina, que estudava no Ensino Fundamental I. Eu sofria bullying por diversos motivos que não vem ao caso. O que importa é que por conta disso, eu quase não tinha amigos na escola e ficava um tanto quanto isolada. Claro que tinham 2 meninas que também sofriam bullying e se juntaram a mim e eu a elas. No auge dos meus 8 anos, eu entendi que, se você zoasse e colocasse apelido nos amigos/colegas, você era cool, era da galera, e por isso tinha mais amigos. Então, o que eu fazia? Colocava apelidos nas minhas únicas 2 amigas. Não preciso dizer que elas se afastaram e nunca mais tive contato com elas. Mas eu achava que esse comportamento era o legal, que me daria a chave para entrar para a galera e parar de ser zoada. Foi quando percebi o quão humilhante pode ser o bullying.
Não estou num dia desabafo. Quero apenas mostrar que uma vítima, também pode ser autora e não ter consciência disso e nem dos efeitos de suas atitudes. Por isso, ao invés de questionarmos se alguém foi vítima, que tal perguntarmos se foi autora e deixarmos a vontade para responder a verdade, sem ser massacrada e apontada. Condenando o autor, só estamos contribuindo com o bullying e com o preconceito.
"Mas eu achava que esse comportamento era o legal, que me daria a chave para entrar para a galera e parar de ser zoada. Foi quando percebi o quão humilhante pode ser o bullying.
ResponderExcluirNão estou num dia de desabafo. Quero apenas mostrar que uma vítima também pode ser autora e não ter consciência disso e nem dos efeitos de suas atitudes."
Você tocou no ponto agora. Muitos que praticam o bullying o fazem por influência do ambiente. A vítima de bullying acaba incorporando (ou tentando incorporar) o comportamento para "entrar para a galera". Isso não apenas com o bullying, mas com todo tipo de comportamento.
No meu tempo de colégio, eu achava o máximo o aluno ser bagunceiro em sala de aula, festeiro fora dela, e ao mesmo tempo estudar em casa e tirar nota boa. Tudo isso porque muitos alunos que se saíam bem no colégio eram barulhentos na sala e fãs de carnavais fora de época.
Este tipo de situação foi tão presente na minha vida durante tanto tempo que eu a levei até o começo da faculdade (!!). Só muito depois que eu me dei conta de que isso era uma coisa totalmente non-sense, e amadureci e parei de valorizar isso.
Samuel, obrigada pelo comentário. Assim vamos delineando o fenômeno e vemos como há ligação com as atitudes contínuas dos adolescentes.
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